Quando
conhecemos alguém, o mais complicado é acertar as brincadeiras.
Afinar o humor. Rir e fazer rir.
É
somente pelo riso que nos confessamos.
É
somente pelo riso que chegamos ao quarto.
É
somente pelo riso que superamos as experiências anteriores.
Arrisco
a dizer que o humor é nossa verdadeira nudez. É quando realmente
expomos os nossos preconceitos e fragilidades.
Não
adianta ser simpático, bonito, inteligente, poético, romântico,
dependemos da cumplicidade da graça.
Sem
a sintonia das piadas, o casal que está se formando não vai superar
as brigas e as diferenças no futuro. Casal longevo é o que ri dos
seus problemas, e não transforma aborrecimentos em epopeias. Casal
maduro é o que perdoa e segue.
O
riso é a porta de entrada de todo o relacionamento. Torna-se a parte
complicada da aproximação.
Começar
uma história significa conhecer as dores do outro durante a mais
pura alegria. Estará animado e, sem querer, cutucará uma cicatriz.
O
que pode parecer natural para você pode ser de mau gosto para ela, o
que pode soar espontâneo para ela pode ser agressivo para você.
Não
podemos nos frear, mas não podemos machucar. Não podemos nos
censurar, mas não podemos ferir à toa.
Precisa
se soltar, porém conservando a prevenção de que ela não vive em
sua cabeça e não se habituou ao seu tom de voz, à sua ironia, às
suas preferências.
A
brincadeira estimula a intimidade. Aproxima. Apressa o abraço. Só
que também pode desencadear incompreensão e incômodo.
O
cuidado aumenta com a intensidade do relacionamento: quanto mais
dependente de uma resposta mais vulnerável nas palavras.
Você
terá que aprender a brincar, e principalmente, com o que não pode
brincar.
Esta
é a senha: não podemos brincar com tudo.
Ao
brincar, desvendará o que é sério e deve manter distância.
Será
um trauma, será um hábito, será uma convicção.
Ela
dirá que não gosta, e não insista. Não volte mais ao assunto. Não
busque se corrigir provando que a crença dela é insignificante.
Há
um território do pensamento feminino onde não é possível debochar
ou subestimar, é uma lembrança com cerca elétrica, ninguém entra,
nem ela mesma.
Toda
mulher adora quem a faça rir, mas o que mais ama é quem descobre o
que merece respeito.
(Fabrício
Carpinejar)