Eu tenho verdadeiro horror de quem não me conhece (ou me conhece há cinco minutos) e me chama de amiga. Pior ainda é quem força uma intimidade inexistente. Respeito e prezo muito o meu espaço, a minha vida.
Tem gente que adora estar rodeada de gente. Eu também gosto. Mas prefiro estar rodeada de três ou quatro pessoas verdadeiras do que uma multidão que assim que eu virar as costas vai marcar uma reunião pra falar da minha roupa, do meu cabelo, do meu peso ou do meu casamento.
Já convivi com diversas pessoas e entendi que o que é meu tenho que guardar pra mim. Não é legal abrir o livro da vida pra quem senta no bar pra rir e tomar umas e outras. Não dá pra jurar de pés juntinhos que Fulana é muy amiga. Ainda mais quando a dita cuja tem no currículo o tópico adoro-me-reunir-com-as-amigas-pra-falar-dos-outros.
Sinceramente, detesto que metam o bedelho na minha vida. Lembro que quando era mais nova vivia colada no telefone. Fulana, o que eu faço? Fulaninha, ele me disse tal coisa, o que será que eu digo agora? Fulaninha, hoje fiz luzes no cabelo. Fulaninha, comprei um vestido novo. Fulaninha, vou viajar para Trancoso. Olha, eu aprendi que a gente deve é ficar quieta. E que nem tudo deve e precisa ser compartilhado.
Aprendi a pensar sozinha. A decidir as coisas por mim. E, principalmente, a não perguntar o que o outro acha da minha atitude. Deve ser por isso que alguns amigos não entenderam e se afastaram. Devem ter colocado a culpa no meu relacionamento. As pessoas gostam muito disso: Fulana mudou porque arrumou namorado. Na verdade, muitas vezes ocorre o seguinte: você mudou porque Fulana está namorando. Você mudou porque Fulana não te liga a toda hora pra perguntar que cor de esmalte passa na unha. Você mudou porque agora a Fulana não sai mais de quinta a domingo. Você mudou porque a Fulana arrumou um emprego, uma casa e uma vida. Você mudou porque agora acha que não tem mais nada em comum com a Fulana. As pessoas têm a triste mania de colocar a culpa em cima de quem começou um relacionamento. E isso é errado.
O amigo de verdade entende que agora você não tem mais tanto tempo livre. E que, independente disso, continua sendo amigo. Que você pode contar com ele. Que você pode usar e abusar do ombro dele. Que você pode seguir rindo e chorando com ele. Só que agora não são mais dois. Na verdade, nunca foram dois. É sempre um. É sempre a gente. É sempre eu. É sempre você.
Eu não vivo sozinha, preciso dos meus amigos. É bem verdade que hoje não sou grudada em ninguém, só em mim. Mas acho que isso a maturidade me trouxe. Não que eu seja a super adulta, muito pelo contrário: vou ser uma eterna criança. Mas não preciso mais do palpite, conselho e aprovação dos amigos pra tudo, coisa que um dia precisei. Hoje eu decido por mim. Se brigo com meu marido não corro para o telefone pedir um conselho para alguma amiga. Me resolvo com ele.
Acho a amizade entre os homens mais fácil. Não existe cobrança, não existe disputa, não existe cara feia, não existe nada disso. Eles se encontram, comem churrasco, tomam cerveja, jogam futebol e conversa fora. Dão gargalhadas e combinam de se ver no próximo mês. Já as mulheres estão sempre competindo. Cuidando as pontas duplas do cabelo da outra, cuidando um passo em falso, cuidando uma infelicidade escondida no olhar. Oi, ontem fui jantar com a Fulana. E aí? Ah, eu achei ela tão gorda, cheia de olheiras e ainda por cima usava uma bolsa surrada! Entende a diferença? Homem é mais sincero.
Um dia a gente acaba aprendendo que amizade não é grude. Já disse isso muitas vezes. Amizade não é grude. É você guardar pessoas especiais dentro do seu coração. É mostrar que a pessoa pode contar com você, não importa a hora nem o lugar, nem nada mais. É demonstrar o sentimento. E se o outro não der bola, tudo bem. Vai ver que não era amigo de verdade.
(Clarissa Corrêa)