segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Somos como o ano velho, por isso tememos o novo.
O que estou fazendo com as minhas partes que ficaram paradas?
O que você está fazendo com as suas?
O que estou fazendo para renovar o que há de antigo em mim, tão arraigado que até já o suponho convicção?
O que você está fazendo com o que há de antigo em você, e que talvez se exteriorize com a aparência de ser o mais moderno?
Somos como o ano velho. Como um montão de anos velhos, acumulados. Vivemos a repetir o que já sabemos, o que já experimentamos. Repetimos, também, sentimentos, opiniões, idéias, convicções. Somos uma interminável repetição, com raras aberturas reais e verdadeiras para o novo do qual cada instante está prenhe.
Somos muito mais memória do que aventura; mais eco que descoberta; mais resíduo que suspensão. Somos indissolúveis, pétreos, papel carbono, xerox existencial, copiadores automáticos de experiências já vividas, fotografias em série das mesmas poses interiores. Somos um filme parado com a ilusão de movimento. Só acreditamos no que conhecemos. Supomos que conhecer é saber.
Viciados nas próprias crenças, somos dependentes das próprias verdades, toxicômanos das próprias convicções. E como ocorre em todas as dependências precisamos repetir as nossas verdades para que não caiamos no pânico da dúvida, na ameaça da mutação.
Inventamos uma pacificação ilusória e grandiloqüente. Seu nome: coerência. Coerência passa a ser grande virtude: "Fulano, conheço-o há trinta anos. Sempre na mesma posição. Tipo coerente está ali!" E assim saudamos a alguém que parou no tempo, que tão logo ganhou uma convicção, fechou-se a todas as demais.
Fico a pensar no que ele perdeu de vida, alegria e descoberta nesse tempo todo. Assim nas crenças, idéias, e também nos sentimentos, vontades e hábitos. A rigor não sabemos o que estamos fazendo para renovar o que há de antigo em nós. Em geral, nada.
Não me refiro ao que há de permanente, pois o ser humano é feito de permanências e provisoriedades. As permanências (ligadas às essências) devem ficar. Mas as provisoriedades que se tornaram antigas, paradas e repetitivas e que ali estão remanescentes por nossa preguiça de examiná-las ou por nossa incapacidade (ou medo) de removê-las, estas precisam ser revistas, checadas, postas em discussão, em debate e arejamento.
Assim vejo o Ano Novo. Como a esperança dessa renovação, que tem um nome: criatividade. Criar é manter a vida viva. Criar é ganhar da morte. Morte é tudo o que deixou de ser criado. Criatividade, é pois, um conceito imbrincado no de vida. Não há como separar os dois conceitos. Vida é criação e criação é vida. Só a criatividade nos dará uma possibilidade de solução para cada desafio do novo. As soluções jamais se repetem. Nós é que nos repetimos por medo, comodismo ou burrice.
Adoramos repetir, tememos renovar, por isso, tanto sofremos.
(Artur da Távola)

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