A gente tinha quase tudo pra ser feliz. Eu tinha um ideal entre os dedos, um romantismo que até hoje não me deixou, um punhado de esperança que desse certo e a certeza de que queria você. Você tinha uma ideia a meu respeito, uma inocência que até hoje não te deixou, umas atitudes sem cabimento e a certeza de que me queria enquanto eu fizesse o que você achava certo.
Acho que a maioria das relações não dão certo porque temos a péssima mania de idealizar o outro. Mas ninguém é príncipe ou princesa, ninguém está aqui atuando em um filme bobo de amor. O dia a dia não tem tanto encanto nem mágica nem sonho nem beijos cinematográficos. O dia a dia é realidade, é defeito, é incerteza. E eu queria fazer tudo para agradar você, tudo, tudo, tudo. Eu fiz tanto que até esqueci de mim, me perdi no meio de tanto querer, derrapei feio, me quebrei inteira e no fim das contas pensei peraí-quem-sou-eu?
Você queria que eu fosse como você sonhava. Só que nossos sonhos não deram as mãos, não se atraíram, não se olharam, não se quiseram. E tivemos que lidar com isso, com as neuras, paranóias, tivemos que lidar com o deslizamento, com o terremoto, com o furacão. E você não teve coragem pra lutar, pra arregaçar as mangas e trabalhar, se sacrificar por alguma coisa, porque você nunca se sacrifica por nada nessa sua vida. Você acha que as coisas precisam cair no seu colo com um laço de fita bonito. Mas as coisas não são tão bonitas assim e nem sempre faz sol e céu azul.
Minha vida ficou nublada sem você e sem nós. Mas será que existiu um nós realmente ou foi tudo coisa da minha cabeça? O nós existe quando os dois fazem questão que ele exista. E sobreviva. E se sustente com o passar dos dias. Mas nada disso aconteceu, seu ego é maior, seu orgulho é maior, seu egoísmo te engole e te mastiga lentamente. E eu perdi o amor-próprio, o juízo, a vergonha na cara e te pedi tantas vezes por-favor-fica-comigo e você nem sequer me olhou nos olhos, você nem teve a capacidade de conversar me encarando, com decência, com honestidade, com carinho. E isso me doeu por tantos dias, tantos meses. Essas coisas todas me corroeram por dentro feito ácido que destrói. E fiquei completamente perdida, rasgada por dentro. E demorei pra me reconstruir e ajeitar de novo todas as coisas na minha vida e na minha história. E ainda penso em você. Não com saudade nem com vontade. Mas como uma coisa que me machucou demais. Porque as feridas demoram muito pra sarar.
(Clarissa Corrêa)
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