quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dentro de nós


De vez em quando sinto uma falta de ar violenta. Mas não se preocupe, acho que não tem nada de errado comigo ou com meus queridos pulmões. A coisa vai mais além (e vem mais de dentro): está difícil viver. É julgamento aqui e ali, feito bala perdida. Sobram juízes, sobram deuses, sobram entendidos em todos os assuntos. E falta um pouco de olho no olho e compaixão.
Esse nosso mundo está cada dia mais complicado, acho que os valores estão escorrendo pelas nossas mãos. E ninguém quer parar, pisar no freio, respirar fundo e olhar para os dois lados. Todo mundo segue acelerando sem olhar para trás, sem se importar com o bem-estar do outro. Até quando? Até quando as agressões serão gratuitas? Até quando a gente vai aplaudir a moça que raspa a cabeça na televisão? Até quando a graça vai ser rir da desgraça alheia? Até quando vai ser bonito falar palavrão e tomar tarja preta? Até quando vai ser legal sair com a bunda aparecendo no meio da rua? Até quando você vai se preocupar se a filha de A ou B tem a doença C? Até quando você vai apontar o erro do outro ao invés de reconhecer seus próprios erros?
Não aguento mais esse ti-ti-ti, esse bafafá, essa gente que não é capaz de olhar para si primeiro. Tudo precisa de rótulo, tudo precisa ser debatido, tudo precisa virar confusão, tudo é levado para o outro lado e encarado como crítica. As pessoas estão sensíveis e agressivas demais. É contraditório, eu sei. Mas jogam mil pedras nos outros e ficam ofendidas por pouco. Isso é demais pra mim. É por isso que cada vez mais eu me fecho no meu mundinho. E lá entra quem eu quero, quem é da minha tribo. Porque esse mundo onde tudo é guerra, confusão e gritaria não é comigo. Não gosto do grito, prefiro os meus silêncios. Não gosto da confusão, sou do time da calmaria. Não gosto do tumulto, prefiro a paz. Não gosto da fofoca, prefiro falar com os olhos. É mais humano, mais leal, mais digno, mais legal.
Acho que as pessoas andam perdidas. E fazem a maior questão de se preocupar com o que está fora. Esquecem que o que nos acompanha é o que fica lá dentro. E essa é a nossa melhor e pior parte.
(Clarissa Corrêa)

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